O Design e a disseminação do Racismo:Uma análise crítica do projeto racista e sua propagação

 Nossos ambientes, produtos e experiências são formados principalmente pelo design. No entanto, essa influência não está apenas na funcionalidade, mas dita, também, padrões estéticos e dessa forma pode perpetuar o racismo e outros sistemas de opressão e desigualdade. O design (e o ensino do design) pode refletir, reforçar e até estimular preconceitos raciais, muitas vezes de formas muito sutis.

Disponível em: https://m.i.uol.com.br/estilo/2011/08/19/anuncio-da-nivea-considerado-racista-1313766860065_615x300.jpg
    O design perpetua o racismo principalmente por meio da exclusão e da invisibilidade. Vários dos produtos e serviços do design foram desenvolvidos com base em uma formação acadêmica colonialista e heteronormativa, ignorando as necessidades e realidades dos grupos que saem dessa norma. Um grande exemplo é nas áreas da saúde onde a falta de representação em materiais educacionais desses grupos racializados pode resultar em profissionais que não atendem de maneira adequada a essas populações. Também temos o uso de dispositivos de diagnóstico e saúde que são projetados principalmente com dados de populações brancas, é o exemplo mais claro. Isso levou a diagnósticos e tratamentos incorretos de pessoas não brancas.

Fonte: Pater,2020


Além disso, o design gráfico tem assumido o papel de reforço dos preconceitos raciais. A maneira como é feita a representação na mídia, na publicidade e na moda frequentemente reforça esses estereótipos e ideias discriminatórias. O uso caricato para representar raças e etnias, a apropriação cultural e a falta de diversidade na representação visual não apenas ignoram a diversidade e a variedade das identidades raciais, mas também reforçam uma narrativa única e muitas vezes prejudicial. Por exemplo, a apropriação de elementos culturais de comunidades racializadas por marcas importantes sem o devido reconhecimento e respeito desrespeita e distorce essas identidades.


A classificação dos africanos como negros e dos europeus como brancos estabeleceu a hierarquia racial necessária para legitimar a exploração e a escravidão. Hoje encontramos a mesma oposição simbólica na cultura visual. A Cinderela tem cabelo claro, e suas irmãs e madrasta possuem cabelo escuro. Em Star Wars, Luke Skywalker é o herói de cabelo claro e pele branca, enquanto seu oponente do mal, Darth Vader, veste preto.19 Embora isso possa ocorrer de forma inconsciente, a oposição binária entre bem e mal ainda habita cada canto de nossa linguagem visual. Reafirmar esses estereótipos na comunicação visual é dar continuidade a ideias colonialistas das relações entre raças. (Pater, 2020)


Não só o design reforça o racismo, mas também pela arquitetura e planejamento urbano. As grandes cidades têm histórias de planejamento racializado, onde comunidades minoritárias foram ignoradas ou desinvestidas. O planejamento dessas cidades prioriza as áreas habitadas pelos brancos das classes sociais mais altas, agravando a segregação social e econômica. Os bairros mais pobres, onde a maioria das pessoas são negras, são deixados para trás. O planejamento e administração das cidades que mantêm as desigualdades são um exemplo do racismo estrutural e ambiental.



Estereótipos étnicos são perigosos porque impedem que o grande público compreenda a história e a realidade cultural do grupo retratado. De modo geral, designers devem evitar representações levianas de culturas, raças ou nacionalidades que não a própria. (Pater, 2020)


Uma abordagem mais representativa pode ser desenvolvida pelo design para oferecer uma solução para esses problemas. Os designers devem incorporar diversidade e equidade em seus processos criativos. Isso inclui não apenas trabalhar com grupos marginalizados, mas também garantir que produtos e ambientes sejam acessíveis a todos. A criação de representações visuais que respeitem a diversidade cultural também é essencial. Os designers podem combater os padrões racistas e os efeitos prejudiciais do design ao adotar uma abordagem crítica e comprometida com a luta anti racista. Eles também podem ajudar a construir uma realidade que realmente combate e criminaliza o racismo.

Por fim, o design é uma área onde podemos manter e desafiar sistemas de opressão, como o racismo. O primeiro passo para criar soluções mais inclusivas e justas é reconhecer e entender como, enquanto designers, podemos barrar estereótipos, incentivar a inclusão e denunciar as desigualdades. Os designers têm a responsabilidade de contribuir para uma mudança significativa na maneira como a sociedade vê e trata as questões raciais ao adotar uma abordagem mais consciente e representativa.




Referências


PATER, Ruben. Políticas do design: Um guia (não tão) global de comunicação visual. 1. ed. [S. l.]: Ubu editora, 2020. 298 p.

CARDOSO, Rafael. Design para um mundo complexo. São Paulo: Cosac Naify, 2013. 

COSTA, Eduardo. NÃO ME DIGA ISSO: UMA CAMPANHA QUE EXPLORA O DESIGN GRÁFICO COMO FERRAMENTA ANTIRRACISTA.. Orientador: Claudia dos Reis e Cunha. 2022. TCC (Bacharelado em Design) - Universidade Federal de Uberlândia, [S. l.], 2022.


Texto desenvolvido por Lamia Nogueira da Silva para a disciplina Teoria do Design - Universidade Federal do Rio Grande do Norte - Departamento de Design - 2024. O texto colabora com o projeto de extensão “Blog Estudos sobre Design”, coordenado pelo Prof. Rodrigo Boufleur (http://estudossobredesign.blogspot.com).


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